sexta-feira, 26 de março de 2010

O Amor Acontece


Lá vou eu, varando a madrugada, tentar escrever algo no mínimo decente sobre amor. Ou sairá uma tragédia, ou algo aceitável. Como não sou uma escritora exemplar, fico com a primeira opção, mas ainda assim, me arrisco. Vai que um anjo bom, se aproveita do meu estado de transe, com o sono se aproximando, e me inspira?

O tema que vou abordar, está em minha mente há uns quinze dias, martelando pra escrever sobre, porém minha vida corrida de enfermeira, aliada à responsabilidade semanal no outro blog, me fizeram empurrar isso com a barriga. Coisa mais feia e indisciplinada.
Há umas duas semanas, fui contemplar mais uma estréia da minha querida, linda e maravilhosa Jennifer Aniston, a Eloise em "Love happens", ou simplesmente como foi traduzido, "O amor acontece".

O filme tinha tudo pra ser mais um água com açúcar desses que mulheres gostam de ver, mas não o é. Aliás, está mais pra drama, do que pra romance, visto que a história se passa em torno de um homem que ficou famoso ao escrever um livro sobre a superação da morte de um ente querido, e como seguir em frente (afinal a vida continua, e se entregar é uma bobagem, já dizia Renato Russo, na melancólica "Vento no Litoral"). Esse homem (que não me lembro o nome, repito, vi o filme apenas por ela, nunca tinha visto mais gordo) conhece Eloise no hotel onde ele apresenta o seminário sobre o livro, onde as pessoas vão, para vencerem a dor e seguirem adiante. Porém ele mesmo foi incapaz de superar a perda precoce de sua esposa, e faz para os outros o que não consegue fazer para si mesmo.

E em torno dele, está a doce e bela Eloise, trazendo sorriso e encanto aos seus dias, sendo pouco notada, apesar de ser notável.

Uma cena que me marcou, foi quando ele leva o grupo de seminaristas para o meio da rua, e pára o trânsito. Ele pergunta o que eles estão ouvindo. "Sirenes", "buzinas", "uma britadeira", "alguém nos xingando porque estamos no meio da rua", são algumas das frases ouvidas por ele. Em seguida, ele sobe com todos para o terraço do prédio, um desses arranha-céu. Lá, pergunta novamente, o que eles estão vendo.
"O sol no horizonte", "pássaros cantando", "uma mulher nua na piscina da cobertura" (com risos ao fundo), são frases ouvidas por ele.
Então ele diz: "Isso é parecido conosco. Dentro de nós, temos sirenes, ruído. Mas também...isso. (apontando para o lindo horizonte ensolarado)"
E completa: "Basta subirmos as escadas para ver, o edifício é o mesmo, tudo depende do ponto de vista"

Brilhante, não? Todos temos inquietações dentro de nós. E imensidão. No mesmo lugar, cabe a nós escolher a lente pela qual daremos nosso foco. Pro amor, é assim também. Vamos falar dele, já que é o título do post, e do filme.

O amor acontece quando um sopro de deslize se instala. Quando alguém perde o trem e conhece alguém em meio a uma estação lotada, ou quando se muda inesperadamente o rumo das coisas, e isso te faz enxergar um alguém que estava ali sua vida toda com outro olhar, ou encontrar um novo olhar pela primeira vez. Em outro filme que vi recentemente, a mocinha diz que foi olhar um catálogo numa livraria, e que um homem lhe pediu informação, e esse homem hoje é seu marido. E ela diz: " E se eu me atrasasse meia hora?se eu fosse pra outro lugar?Se eu fosse almoçar primeiro?".

Certas coisas não tem explicação. Mas acontecem, porque tinham que acontecer. Pra alguns que crêem, destino. Para outros, livre-arbítrio aliado à sorte. De qualquer forma, um pequeno acontecimento pode fazer o amor acontecer. Seja uma vida triste com uma perda não superada, que encontra recados estranhos atrás de quadros em paredes de corredor de hotéis, seja um encontro inesperado com alguém que você não vê há tempos e que nunca tinha olhado do jeito certo.

Para quem sabe abrir as portas e o coração, o amor faz visita e encontra moradia. O que não podemos deixar, é que algumas decepções passadas nos fechem para oportunidades futuras, visto que cada experiência é única e mesmo os erros, não se repetem da mesma forma. (Mas há que se ter bom senso em alguns casos)

Vi o final de uma novela também por esses dias e pensei: todo mundo feliz, como a vida deveria ser. Deveria? E a graça de lutar pela felicidade e para que as coisas se acertem? Quando tudo é muito fácil, perde-se o gosto, e o interesse. Tudo que é conquistado com esforço tem mais valor sentimental. E devemos sempre lembrar que a vida é muito além da soma de suas partes, então o ser feliz é algo que depende do que se tem, em que se crê e o que se deseja ter.

Independente disso, o amor acontece pra todos nós. Amantes apaixonados, mães de primeira viagem, mães de milésima viagem, irmãs que se descobrem melhores amigas, um hobby, uma profissão, uma platonite adolescente, um novo sabor de sorvete, uma amiga, uma música que toca partes suas que ninguém consegue acessar.

Mas o que importa na vida, é a vida que se leva e o que levamos no coração. Pro amor acontecer, é preciso estar aberto, ter sorte e principalmente, um olhar diferenciado para enxergar mágica onde os incrédulos acham que não existem milagres. Não deixe sua vida acontecer sem você.

By Nine





quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre Amizade e Outros Valores...

A vontade de escrever sobre temas extra-musicais sempre me consumiu: quando pequena, eu escrevia redações, livros, histórias, poemas, cartas e uma infinidade de letras que formam meu universo literário particular. Um belo dia, perguntei a mim mesma, porque nunca tinha colocado essa idéia em prática. Sério, eu não soube responder, porque não tinha porque não pôr essa idéia em prática (desconsidero o fato de eu ter surtos “nunca mais vou escrever”), visto que a inspiração é diária e vem de momentos cotidianos: desde “andar pela sombra” num dia quente, até “porque os bebês se sentem sozinhos” quando estão internados. Logo, tem assunto pra dar e vender. Dá pano pra manga. Imaginação fértil, de quem mora no país das maravilhas e vem tirar férias básicas no mundo real pra se indignar contra a dura realidade. Hoje, aproveitando que resolvi “tirar o atraso” literário, e voltei a escrever no blog sobre música, depois de quase dois meses ausente, pensei: está chovendo, frio e eu estou mesmo de dieta e sozinha, porque não começar a escrever, vai que sai algo bom?

Ok, isso não é um argumento sustentável e nem estou me vitimizando, até porque sou uma pessoa privilegiada: estou com as meias mais quentinhas do mundo, com uma sopa quentinha e deliciosa ao meu dispor, em casa, de bobeira, numa noite fria. Mas tem algo que me incomoda, e eu preciso eviscerar: amizade verdadeira existe nos dias de hoje? É sobre o que eu quero falar hoje. Razões? Deixo para o final. Mas esse assunto é um daqueles que dá pra falar mil vezes sem esgotar o leque de possibilidades.

Será que a amizade nos dias de hoje tem o mesmo valor que antigamente? Há alguns anos atrás, era comum as pessoas terem amizades de infância pela vida toda, e hoje em dia, fica cada vez mais raro esse tipo de afeto presente na vida corrida e descompromissada com as relações, onde cultivamos a nossa solidão.

Eu gostaria de reviver o sentido da amizade, aquela onde o altruísmo sobrepõe o egoísmo, onde o coletivo toma a liderança e a cumplicidade é vista como honra e não como título de burrice. Como seria um mundo onde não pudéssemos confiar e contar com ninguém? Prefiro não saber, mas desconfio que estamos nos imergindo progressivamente nele, tão lentamente, que quando nos dermos conta, estaremos afogados num mar de egos em competição.

Lembro do meu primeiro dia na escola nova, onde eu ia para o Jardim. Estava assustada, pois era uma escola enorme que tinha até nível superior, e antes, eu estudava num jardim escola de fundo de quintal. No primeiro dia, assustada, num cantinho, lembro de uma menina que sentou do meu lado e me ofereceu metade do refrigerante dela pra mim. E ficamos amigas, e eu lembro do rosto dela até hoje, apesar não tê-la visto mais, ao mudar de escola. Parece algo pequeno, mas hoje em dia, as crianças são treinadas para não dividirem suas coisas e pensarem antes em si próprias. Cuidado: Quem cria monstros, pode se tornar alvo deles. Crianças filtram e absorvem tudo ao redor, temos que ter cautela e pisar em ovos quando quisermos dar um exemplo, na forma como passamos os nossos valores.

Voltando ao exemplo do refrigerante dividido, onde eu tinha cinco anos, e sim, me lembro bem disso, pois era muito mais fácil cativar uma amizade, numa época onde éramos mais fraternais e nos tratávamos como irmãos: dividíamos tudo e tudo era festa. É preferível ter pouco e dividir, e nos alimentarmos de sentimentos também, do que ficarmos isolados em nosso castelo, sem ter pra quem mostrar todo nosso ouro.

Eu tenho amigos que não tem idéia do quanto são meus amigos, nem tem noção de como me são especiais, raros, caros e como me sinto afortunada por tê-los, nesse caótico mundo de sentimentos descartáveis, onde ganhar dinheiro e ter poder se tornaram prioridade em detrimento do “ser alguém com princípios”.

Se eu pudesse fazer tudo por eles, faria sem pestanejar. Eu aprenderia a voar, ou me conformaria em ter os pés no chão. Eu só gostaria de estar presente no melhor e no pior momento da vida deles, porque é preciso reconhecê-los em suas vitórias e nos reconhecermos como parte de suas tragédias, visto que a dor é subtraída na mesma proporção que a felicidade se multiplica. Quem diria, é matemática pura. Sem razão, mas tem lógica: a união faz a força. E um mais um consegue ser igual...a um. Uma só alma com dois corpos, dois corações em uma só sintonia.

Vá entender, eu desisto, mas aceito e comemoro: quem inventou um sentimento onde o predomínio é o altruísmo, onde você pode ser exclusivo para alguns e único pra todos eles, e você se sente leve ao transbordar sua alma para além de si mesmo, merece um pedestal, e o meu reconhecimento. Respondendo e justificando minhas razões para falar sobre amizade? Não tem explicação, e nem acabou por aqui. Mas eu me sinto privilegiada por poder contar em mais de uma mão, os meus afetos sinceros, que eu guardo na parte mais nobre que há em mim. E me sinto vulnerável e triste quando não posso corresponder à uma expectativa, ou não estou presente como gostaria. Mas em pensamento, estamos juntos, sempre, em tão harmoniosa sintonia, que eu poderia tocar seu coração. O mundo é melhor, porque você existe. Jamais esqueça disso.

By Nine

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