terça-feira, 8 de março de 2011

E a Culpa é de Quem?

A culpa é de quem?

Que as desigualdades existem, todos sabemos e por vezes nos tornamos vítimas delas. Que as desigualdades de todo tipo – social, racial, religiosa, intelectual – existem e em vez de acrescentarem, segregam, todos nós sabemos. Mas há aquela que eu nunca tinha visto e fiquei perplexa: a desigualdade, ou melhor, a diferenciação, do que é igual.

Com a especialização crescente da mão-de-obra, o mercado de trabalho vem se tornando cada vez mais exigente, e isso diferencia profissionais da mesma área – os mais capacitados terão cargo de destaque e, por isso, melhores salários do que os demais profissionais de sua área, seja por posição de prestígio ou cargo de importância hierárquica, o que justifica a diferenciação dos vencimentos e gratificações.

O que não se justifica, são profissionais com a mesma instrução e formação, sem nenhuma diferença curricular, ocupando funções que exigem o mesmo nível de conhecimento, terem diferenças salariais, para que se sintam “motivados” a não se corromperem. Meu Deus, que país é esse?

É de perder a fé na honestidade, visto que chega a ser indecente gratificar um profissional para que ele exerça seu papel adequadamente, dar um bônus pra não se corromper, enquanto outros, da mesma categoria, não recebem tal gratificação. Logo, estes podem se corromper...Certo? É o que parece, já que há esse contraste absurdo.

Ao tomar ciência que Policiais Militares que são alocados em Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) em comunidades carentes livres da ocupação dos traficantes, recebem uma “gratificação extra” que o policial que é alocado em batalhões não recebe, para que esse não seja corrompido em seu local de trabalho, onde há possível presença de elementos desertores da lei, fiquei estupefata. O que é isso?

Se o policial recebe mais para que não aceite corrupção, ele já está sendo “corrompido” com a “lei” que o favorece, para que ele não se corrompa para o lado B, o lado dos Bandidos literalmente falando – aqueles que todos reconhecem como tal, por não se disfarçarem de bons cidadãos.

O problema é que essa diferenciação não é só privilegiar uns em detrimento de outros, mas uma forma de corrupção “lícita”, onde se evita que o policial favoreça o marginal, sendo ele próprio o favorecido pra isso.

Como exigir desses profissionais que trabalham na linha tênue entre legalidade e ilegalidade, que mantenham uma caráter firme e um exercício digno de sua profissão, se o próprio sistema o ensina que ele pode receber benefícios, logo, não é necessário se satisfazer com os salários que recebem?

Que os salários são inadequados, isso é fato, e é vergonhoso exigir que um Ser Humano arrisque sua vida em exercício da profissão, se ele não se sente minimamente valorizado pra isso, porém usar o próprio erro do sistema para dar um cala a boca pro servidor não é solução decente, tampouco honesta, especialmente para aqueles que não são beneficiados com tais regalias, e sendo assim, se sentem totalmente desvalorizados em seus papéis de extrema relevância para o estabelecimento da ordem, no meio a esse caos em que vivemos.

Do outro lado, esse policial que não é beneficiado, encontra nessa injustiça, sua justificativa para a corrupção. O salário dele não é suficiente e ele se desmotiva ao ver que há uma discrepância entre ele e colegas que exercem a mesma função que ele, em locais que agora, estão teoricamente mais seguros. Essa situação, só vem a denegrir e desprestigiar ainda mais uma classe cada vez mais desprovida de valor, e que tenta proteger a sociedade do crime usando sua vida como escudo. O sistema está errado. Ele foi feito pra dar errado? A culpa é de quem? De quem tem o poder ou de quem dá o poder?

A culpa é de quem faz errado ou de quem não contesta os erros e exige que se faça o certo?

No fim das contas, todos são corruptos consigo mesmos, ao se traírem, deixando suas convicções de lado por comodismo, porque tentar mudar, questionar ou lutar pela transformação exige vontade, muito esforço, e mesmo assim, nem sempre dá certo. E nem todos têm coragem pra isso. Subornamos nosso próprio eu e nos vendemos ao sistema quando não deixamos extravasar nossa inquietação latente e a nossa inconformidade hemorrágica por tudo estar como está.

Deu pany no sistema, e ninguém percebeu. Acharam que era assim mesmo que funcionava. Ou tanto faz, nem reparamos se funcionava ou não. Deixa estar...O imperfeito não participa do passado e a perfeição está longe do futuro...

...E a culpa é de quem?

By Nine

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Amor é Sorte *

“Sexo é escolha, amor é sorte...” (Amor e Sexo, Rita Lee/Arnaldo Jabor)

Sexta-feira 13, dia de superstição pra muita gente. Sendo treze de agosto então, nem se fala. Aí estava eu, a caminhar pelo fim da tarde, vendo o céu em tons de laranja, azul claro e as primeiras estrelas surgindo e pensei: Sorte. Nesse dia controverso, onde sorte e azar se misturam, dependendo do ponto de vista do observador, pensei em alguns momentos da minha vida, e como fui presenteada com algo que não tem preço, não tem como mensurar, e poucos o ganham, em forma plena, o amor.

Ah, o amor... “Que nasce não sei como, vem não sei de onde e vai não sei porque...”. Esse amor que só é realizado nos filmes de amor e no último capítulo das novelas, e na vida real está muito mais para platônico, fora do eixo, desorientador do que simplesmente apaziguador do nosso coração. Porque não é simples como nas ficções?

“O amor na prática é sempre ao contrário”, já dizia o poeta, e isso é verdade. E é um daqueles presentinhos mágicos que certas pessoas sortudas recebem, às vezes sem merecer, e alguns merecedores se questionam de porque não receber. Ele não é uma equação matemática do tipo: se eu faço tudo certo + sou uma boa pessoa + sou honesta, tenho bom caráter e disposição = ganho um amor de presente.

Você pode fazer tudo certo, sentar pra esperar, deitar porque cansou de sentar, dormir, porque cansou de ficar deitado, acordar numa ressaca emocional e o amor estar nem aí pra você. Nem perto de chegar. E você pode simplesmente piscar, dar “oi” pra um novo coração depois de mal ter acabado de dar “tchau” pra outro, e pimba! – Olha o amor aí te pegando desprevenido.

Ele não é como lutar por um emprego pelo qual se esforçou muito, e teve o mérito. Não é como uma prova que deseja passar, estudou muito, e teve sua recompensa. É apenas uma questão de sorte. O que eu, particularmente, acho uma tremenda injustiça. Todos merecem um amor. Mas se nem todos o merecem, que recebam os que façam valer a pena, e não aqueles que o deixam passar sem perceber seu valor. Porque nesse mundo, há toda sorte e tipo de gente: dos que amam amar e dos que amam ficar longe do amor. E se cabe à sorte e ao azar decidir o premiado da vez nessa loteria, que vença o que faz apostas, e não o que acha o bilhete perdido no meio de uma calçada.

Mas não é assim que acontece, e tudo isso tem um porque: quem o tem e deixa passar, um dia irá lamentar. Quem quer, faz por merecer e custa a ter, em uma bela tarde cinzenta, sem prazeres e expectativas, o encontrará molhado sob uma tempestade, amassado numa esquina qualquer, coberto de poeira quase impercebível, e apesar de pouco convencional e nada notável, não haverá dúvidas que ali estava, então, o tempo todo, escondida a sua sorte. Num cantinho bem guardado pra só você achar, e ninguém te roubar. Um bom amor a todos...

“Não tenha dúvidas, pois isso não é mais secreto. Juntos morreríamos, pois nos amamos. E de nós, o mundo ficaria deserto...” (Meu Mundo Ficaria Completo, Cássia Eller)

By Nine

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Espera Necessária

“Ela se encolhe e aguarda que a corrente do tempo a leve de volta ao seu próprio tempo.”

Era mais um dia de trabalho, e como sempre, apertei o botão a espera do elevador. Sabe aquela coisa de rotina, que já sabemos de cor qual será a próxima cena? Eu sabia qual seria, mas nunca tinha parado para refletir sobre ela, até que hoje, me deu um estalo. Saí do elevador e cumprimentei um senhor sentado na poltrona, ao lado. E parei pra pensar, que todos os dias, noites, feriados e finais de semana, que chego para trabalhar, está lá, o mesmo homem de idade avançada sentado sorridente na mesma poltrona, me cumprimentando e desejando um bom período de trabalho. Quem será ele? O que será que ele faz, passando sua vida ali? Quem será a pessoa que ele acompanha, espera, anseia pela cura, ou pelo irremediável fim? Perguntas que me vieram à mente, e não sabiam calar. Fiquei sem resposta, divagando possibilidades.

Será sua mãe? Creio que não, ela não deve mais ter idade para estar entre nós, já que se trata de alguém de idade avançada. Será um outro parente? Irmão, tio, primo, filho? Talvez. Porém, caso não seja um filho, creio eu que teriam outros parentes mais próximos para revezar a companhia, a menos que ele seja o único parente ainda vivo. A resposta mais lógica que chegou à minha mente – e confesso, a que quis aceitar como real – foi que ele esperava por sua esposa, sua mulher, companheira de uma vida inteira. Isso talvez justificaria dias e noites a fio, gastando talvez os últimos dias, meses e anos de sua vida dentro de um corredor cinza e silencioso de hospital, sorrindo para todos como se quisesse fazer nascer dentro de si, a esperança de tentar recomeçar, não importa o ponto da vida em que se esteja vivendo. Ou talvez ele disfarce muito bem, e por dentro esteja se corroendo em dor e inconformismo, mas ainda assim, precisa se apresentar forte, para dar força a quem tanto quer salvar com seu amor, que já não é mais o suficiente para curar.

Fiquei pensando no tempo de espera, que em algum momento de nossas vidas, todos nós devemos atravessar, com paciência e resignação. A espera necessária. Necessária para uma alma que busca plenitude. Para um coração que anseia conforto. Para sonhos que urgem eternidade. Todos temos um tempo, onde devemos esperar. Seja por um emprego, seja por um filho – no ventre ou fora dele – por uma promoção, por uma resposta, uma cura, um amor. Ou por uma esperança partida em vias de desfalecer. Mas é tempo de esperar, sem desacreditar, para que as coisas possam entrar nos eixos, ou nos consertar e nos alinhar à elas, agora em sua nova forma de ser.

A nós, meros e humildes mortais, basta força. Para encarar as mudanças que a vida nos traz, com coragem e garra para seguir em frente. Com fé que não nos abale diante do rompimento de tudo que nos é essencial, e quase sagrado. Com amor, para que recomecemos, sem deixar de crer que apesar de tudo, valeu a pena, e tudo aconteceu da forma mais bela que poderia ter sido.

E o bom velhinho da história? Continua esperando com um sorriso no rosto, como um adolescente no primeiro encontro com sua namorada. Isso lhe torna jovem, isso lhe faz forte. Sortudo daquele – seja lá quem for: irmão, primo, filho, esposa – que está sendo acompanhado. Ele não desistiu. E se é necessário, ele vai até o fim.

By Nine

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aline no País das Maravilhas

Já comecei a falar do Mundo das Maravilhas há muito tempo, desde que era criança e tinha Alice no País das Maravilhas como desenho predileto, que assistia todo dia, ao voltar da escola. Essa semana, em especial, quis voltar a falar dela, devido à estréia do filme com direção de Tim Burton. Assim, comecei a divagar sobre ela no outro blog, como podem conferir, e agora venho aqui, falar mais e mais. Mas vou deixar a Alice de lado só por hoje, e me focar apenas no País das Maravilhas, no meu. Aquele que cultivo no meu imaginário desde criança, e que o filme dava asas para voar.

Nesse mundo só meu, as flores não morrem, e não falo das de plástico. É sempre primavera, o amor tem sempre a porta aberta e nosso futuro sempre recomeça. Em todas as mesas, há pão, e no chão, flores enfeitando os caminhos e os destinos. No meu País das Maravilhas, os índios não são mortos para ganharmos um milhão, e todas as crianças têm educação. Ano de eleição é festa, mas não devido ao Brasil ser Hexacampeão: a democracia acontece em seu esplendor, e bons tempos se iniciam com alguém a acabar com a corrupção, a trazer progresso e honrar cada frase do nosso hino e cada voto de gente honesta, que o fez ganhar o poder da nação.

No meu País das Maravilhas, notícia de jornal é ação altruísta pelas crianças com fome na África, cura de doença terminal, fim das secas no nordeste, camada de ozônio regenerando, capitalismo se modificando, para não haver tanta competição, e assim, todos progredirem juntos.

País das maravilhas, ou Mundo das Maravilhas, é todos terem a arte de viver da fé, sabendo muito bem que um só Deus ao mesmo tempo é três e esse Deus será idolatrado por nós, porque é justo deixar um Deus feliz.

Utópico seria não haver solidão, soberba, ira, avareza. E dos pecados que existem, se só restasse gula por caridade e preguiça de desvio de verba. Graças a Deus, sonhar ainda é de graça, e que sonho louco meu lado Alice alimenta no meu imaginário, nesse mundo com flores gigantes, casas de chocolate e um pólo norte todo de sorvete. Onde os bichos falam conosco, entendemos seus sentimentos e os tratamos dignamente. Onde podemos ouvir da lagarta, suas lições antes dela virar borboleta, e aproveitar suas últimas 24 horas de vida voando pelo infinito azul. Onde podemos ver gatos sorrindo e desaparecendo, onde coelhos dizem que ainda é cedo, cedo, cedo, cedo, cedo...Para desistir dos nossos sonhos. Onde chapeleiros malucos comemoram o desaniversário de todos os excluídos, e uma xícara de chá seja ofertada a todos que tem fome.

Eu quero mudar o mundo, e me acho pretensiosa demais por isso. Mas ser despretensioso não leva a nada. Quem me dera ao menos uma vez, existir um cogumelo que nos faça crescer e diminuir! Crescer como seres humanos, como bons espíritos, livres e que não deixam nada lhes possuir. Diminuir o medo que escorre entre nossos dedos e o fracasso que de vez em quando, nos sobe à cabeça. Essa é uma parte do meu País das maravilhas, que seja sonho ou fantasia, somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter. E sonhos vem, e sonhos vão, e o resto é imperfeito. Venha sonhar nesse mundo, que o que vem, é perfeição.

By Nine


sexta-feira, 2 de abril de 2010

Como os Pássaros me Ajudaram a Entender Deus

O Post dessa semana não era pra ser esse. Novidade. Tinha pensado nos mínimos detalhes para fazer um texto sobre Respeito. Aquilo, que a educação manda usar, mas que está em extinção. Ia aproveitar a Semana Santa e explanar sobre respeito, e a minha vontade que ele volte à moda, aproveitando que as coleções Outono-inverno já estão nas vitrines, e prometendo arrasar. Pena que valores tenham saído de moda e só exista espaço na moda para superficialidades.

Mas, porém, contudo, todavia, estava eu, numa sexta-feira de linda manhã ensolarada, pós plantão na noite anterior, fazendo uma inocente caminhada. E eis que nesse cenário, vi uma das cenas mais belas que a natureza já me proporcionou. Um espetáculo cujo diretor era Deus, e eu estava ali, na primeira fila.

Eu caminhava à margem do mar. E alguns pássaros sobrevoavam ali, pousados na água como patinhos a nadar. Até aí, tudo bem. Ficou meio impressionante, quando bandos e mais bandos (coletivo de pássaros? Falha de memória do meu tempo de primário, oras) de pássaros vinham voando na direção destes, que estava todos juntos nadando, como um tapete sobre a água. Os que vinham, se juntavam a estes que já estavam, e alguns poucos voavam baixinho, em círculo, sobre os que nadavam, com um balé incrível que parecia ser a coreografia da música que eu ouvia no meu mp3.

Ao olhar pro Horizonte, para a direção de onde vinham os pássaros, milhares deles vinham ainda voando nessa direção, como se tivessem mesmo marcado uma festa ali, ou como se pressentissem o encontro. Não demorou muito, e todos paravam para olhar aquele espetáculo em plena 8 horas da manhã de uma sexta-feira como outra qualquer.

Também não demorou muito para os milhares de
pássaros cobrirem a água de tal forma, por serem muitos, que não víamos água, só um imenso tapete voador, com mergulhos repentinos, e demorados - meu Deus, o que aconteceu? - e emergiam com um peixe. Uau. Simples?Que nada. A cena a seguir me explicou tudinho. Depois de dançar no ar, nadar e comer, os pássaros saiam de dois em dois, voando de volta, de onde vieram. Eles vieram namorar, tá explicado. A dança, no mínimo é parte dos encontros de amor deles.

E com isso, me recordei de um livro que li, amei e mudou minha vida, se chama "Como os Pinguins me ajudaram a entender Deus", do americano Donald Willer. No livro, ele, um ex-ateu que se converte ao protestantismo, fala de como o "sexo dos pinguins", como ele mesmo define, o ajudaram a entender Deus, porque algo perfeito e sem explicação, só pode ter Deus no meio. Meio, começo e fim.

Ele explica um documentário que viu na TV onde o Pinguim macho fica "chocando" o ovo por meses e meses, enquanto a fêmea sai em busca de comida, numa longa viagem. Mas ela sempre retorna no dia exato que o filhote nasce, horas antes, assumindo o posto de "parideira". E isso, pra ele, é um marco em sua fé. E ele dá muitas lições no decorrer da leitura. Coisas deliciosas de se ler, até porque em momento algum ele nos diz coisas que nos fazem seguir e crer. Mas ele conta tudo que aconteceu com ele pra que ele passasse a ter fé. E isso sim, vale mais que mil
palavras.

Acho, que naquela sexta-feira humilde e despretensiosa, algo mudou em mim, ao ver aquela cena, que se compara aos Pinguins de Donald: Eu me senti inexplicavelmente feliz por estar ali, mesmo não gostando de atividade física. Eu me senti numa trilha-sonora de final feliz de filme. Eu só pude agradecer por estar ali, quando muitas vezes esbravejei por nada, tendo sempre tudo de melhor na minha vida, e querendo sempre mais do que está ao meu alcance, desvalorizando inconscientemente todas as jóias que estão me afortunando.

Eu agradeci minha vida, e minha Saúde. Eu agradeci pela vida dos meus pais, minha irmã, meus amigos. Eu agradeci por ter amor de muitas pessoas. Agradeci meu emprego. Pedi a Deus para curar uma amiga. Pedi a Ele para ajudar outra a conseguir a viagem que tanto quer para um país distante, o que me fará sentir muitas saudades. Pedi por uma amiga que vai fazer uma prova. Pedi pela minha prova. Pedi um bom dia. Pedi por uma amiga que se foi, e por outra que ficou. Agradeci pelo que meus olhos viram. E agora, me sinto renovada ao escrever isso, com a chance de talvez não ser lida por ninguém. Ou mesmo, ser lida, mas compreendida, talvez não.

Porque as experiências mais marcantes que temos em nossas vidas são ímpares. Vivemos e nos deliciamos, mas para os outros, são "apenas cereais". No filme "Click", o homem que dá o controle remoto à Adam Sandler, diz que a vida é como um comercial de cereais. Que tudo parece mágico até chegar aos cereais, no fim do arco-íris, mas que quando chega lá, são apenas cereais, pois a graça não está em chegar atá lá, mas em tudo o que acontece no caminho até onde se deseja chegar.

É isso. O caminho é mais importante que o destino final. Até porque, ninguém quer o final, quer o meio. E que ele seja recheado de sabores, prazeres, delícias, espetáculos em plena terça-feira a tarde, de chuva e frio. Surpresas. Mágicas e espantosas, mas que tirem nossa alma da mesmice, da apatia e da rotina cansativa e que apaga nossa vontade de algo novo.

Que nessa semana, Santa por convenção, possamos refletir. Repensar nossos valores, nossa fé, e o que verdadeiramente nos move e nos faz mover montanhas. Que Santa, não seja a semana onde um homem morreu pra nos provar que a vida vale a pena, e renasceu para que tenhamos esperança. Que Santo seja a forma como direcionamos o nosso olhar, com sensibilidade o suficiente para não deixar morrer a esperança em lugar algum. E para que a fé possa ser vivo instrumento capaz de gerar mudanças no mundo que queremos melhor pra nós.

Feliz Páscoa a todos.

Vívian, sinto saudades de ti.

By Nine

sexta-feira, 26 de março de 2010

O Amor Acontece


Lá vou eu, varando a madrugada, tentar escrever algo no mínimo decente sobre amor. Ou sairá uma tragédia, ou algo aceitável. Como não sou uma escritora exemplar, fico com a primeira opção, mas ainda assim, me arrisco. Vai que um anjo bom, se aproveita do meu estado de transe, com o sono se aproximando, e me inspira?

O tema que vou abordar, está em minha mente há uns quinze dias, martelando pra escrever sobre, porém minha vida corrida de enfermeira, aliada à responsabilidade semanal no outro blog, me fizeram empurrar isso com a barriga. Coisa mais feia e indisciplinada.
Há umas duas semanas, fui contemplar mais uma estréia da minha querida, linda e maravilhosa Jennifer Aniston, a Eloise em "Love happens", ou simplesmente como foi traduzido, "O amor acontece".

O filme tinha tudo pra ser mais um água com açúcar desses que mulheres gostam de ver, mas não o é. Aliás, está mais pra drama, do que pra romance, visto que a história se passa em torno de um homem que ficou famoso ao escrever um livro sobre a superação da morte de um ente querido, e como seguir em frente (afinal a vida continua, e se entregar é uma bobagem, já dizia Renato Russo, na melancólica "Vento no Litoral"). Esse homem (que não me lembro o nome, repito, vi o filme apenas por ela, nunca tinha visto mais gordo) conhece Eloise no hotel onde ele apresenta o seminário sobre o livro, onde as pessoas vão, para vencerem a dor e seguirem adiante. Porém ele mesmo foi incapaz de superar a perda precoce de sua esposa, e faz para os outros o que não consegue fazer para si mesmo.

E em torno dele, está a doce e bela Eloise, trazendo sorriso e encanto aos seus dias, sendo pouco notada, apesar de ser notável.

Uma cena que me marcou, foi quando ele leva o grupo de seminaristas para o meio da rua, e pára o trânsito. Ele pergunta o que eles estão ouvindo. "Sirenes", "buzinas", "uma britadeira", "alguém nos xingando porque estamos no meio da rua", são algumas das frases ouvidas por ele. Em seguida, ele sobe com todos para o terraço do prédio, um desses arranha-céu. Lá, pergunta novamente, o que eles estão vendo.
"O sol no horizonte", "pássaros cantando", "uma mulher nua na piscina da cobertura" (com risos ao fundo), são frases ouvidas por ele.
Então ele diz: "Isso é parecido conosco. Dentro de nós, temos sirenes, ruído. Mas também...isso. (apontando para o lindo horizonte ensolarado)"
E completa: "Basta subirmos as escadas para ver, o edifício é o mesmo, tudo depende do ponto de vista"

Brilhante, não? Todos temos inquietações dentro de nós. E imensidão. No mesmo lugar, cabe a nós escolher a lente pela qual daremos nosso foco. Pro amor, é assim também. Vamos falar dele, já que é o título do post, e do filme.

O amor acontece quando um sopro de deslize se instala. Quando alguém perde o trem e conhece alguém em meio a uma estação lotada, ou quando se muda inesperadamente o rumo das coisas, e isso te faz enxergar um alguém que estava ali sua vida toda com outro olhar, ou encontrar um novo olhar pela primeira vez. Em outro filme que vi recentemente, a mocinha diz que foi olhar um catálogo numa livraria, e que um homem lhe pediu informação, e esse homem hoje é seu marido. E ela diz: " E se eu me atrasasse meia hora?se eu fosse pra outro lugar?Se eu fosse almoçar primeiro?".

Certas coisas não tem explicação. Mas acontecem, porque tinham que acontecer. Pra alguns que crêem, destino. Para outros, livre-arbítrio aliado à sorte. De qualquer forma, um pequeno acontecimento pode fazer o amor acontecer. Seja uma vida triste com uma perda não superada, que encontra recados estranhos atrás de quadros em paredes de corredor de hotéis, seja um encontro inesperado com alguém que você não vê há tempos e que nunca tinha olhado do jeito certo.

Para quem sabe abrir as portas e o coração, o amor faz visita e encontra moradia. O que não podemos deixar, é que algumas decepções passadas nos fechem para oportunidades futuras, visto que cada experiência é única e mesmo os erros, não se repetem da mesma forma. (Mas há que se ter bom senso em alguns casos)

Vi o final de uma novela também por esses dias e pensei: todo mundo feliz, como a vida deveria ser. Deveria? E a graça de lutar pela felicidade e para que as coisas se acertem? Quando tudo é muito fácil, perde-se o gosto, e o interesse. Tudo que é conquistado com esforço tem mais valor sentimental. E devemos sempre lembrar que a vida é muito além da soma de suas partes, então o ser feliz é algo que depende do que se tem, em que se crê e o que se deseja ter.

Independente disso, o amor acontece pra todos nós. Amantes apaixonados, mães de primeira viagem, mães de milésima viagem, irmãs que se descobrem melhores amigas, um hobby, uma profissão, uma platonite adolescente, um novo sabor de sorvete, uma amiga, uma música que toca partes suas que ninguém consegue acessar.

Mas o que importa na vida, é a vida que se leva e o que levamos no coração. Pro amor acontecer, é preciso estar aberto, ter sorte e principalmente, um olhar diferenciado para enxergar mágica onde os incrédulos acham que não existem milagres. Não deixe sua vida acontecer sem você.

By Nine





quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre Amizade e Outros Valores...

A vontade de escrever sobre temas extra-musicais sempre me consumiu: quando pequena, eu escrevia redações, livros, histórias, poemas, cartas e uma infinidade de letras que formam meu universo literário particular. Um belo dia, perguntei a mim mesma, porque nunca tinha colocado essa idéia em prática. Sério, eu não soube responder, porque não tinha porque não pôr essa idéia em prática (desconsidero o fato de eu ter surtos “nunca mais vou escrever”), visto que a inspiração é diária e vem de momentos cotidianos: desde “andar pela sombra” num dia quente, até “porque os bebês se sentem sozinhos” quando estão internados. Logo, tem assunto pra dar e vender. Dá pano pra manga. Imaginação fértil, de quem mora no país das maravilhas e vem tirar férias básicas no mundo real pra se indignar contra a dura realidade. Hoje, aproveitando que resolvi “tirar o atraso” literário, e voltei a escrever no blog sobre música, depois de quase dois meses ausente, pensei: está chovendo, frio e eu estou mesmo de dieta e sozinha, porque não começar a escrever, vai que sai algo bom?

Ok, isso não é um argumento sustentável e nem estou me vitimizando, até porque sou uma pessoa privilegiada: estou com as meias mais quentinhas do mundo, com uma sopa quentinha e deliciosa ao meu dispor, em casa, de bobeira, numa noite fria. Mas tem algo que me incomoda, e eu preciso eviscerar: amizade verdadeira existe nos dias de hoje? É sobre o que eu quero falar hoje. Razões? Deixo para o final. Mas esse assunto é um daqueles que dá pra falar mil vezes sem esgotar o leque de possibilidades.

Será que a amizade nos dias de hoje tem o mesmo valor que antigamente? Há alguns anos atrás, era comum as pessoas terem amizades de infância pela vida toda, e hoje em dia, fica cada vez mais raro esse tipo de afeto presente na vida corrida e descompromissada com as relações, onde cultivamos a nossa solidão.

Eu gostaria de reviver o sentido da amizade, aquela onde o altruísmo sobrepõe o egoísmo, onde o coletivo toma a liderança e a cumplicidade é vista como honra e não como título de burrice. Como seria um mundo onde não pudéssemos confiar e contar com ninguém? Prefiro não saber, mas desconfio que estamos nos imergindo progressivamente nele, tão lentamente, que quando nos dermos conta, estaremos afogados num mar de egos em competição.

Lembro do meu primeiro dia na escola nova, onde eu ia para o Jardim. Estava assustada, pois era uma escola enorme que tinha até nível superior, e antes, eu estudava num jardim escola de fundo de quintal. No primeiro dia, assustada, num cantinho, lembro de uma menina que sentou do meu lado e me ofereceu metade do refrigerante dela pra mim. E ficamos amigas, e eu lembro do rosto dela até hoje, apesar não tê-la visto mais, ao mudar de escola. Parece algo pequeno, mas hoje em dia, as crianças são treinadas para não dividirem suas coisas e pensarem antes em si próprias. Cuidado: Quem cria monstros, pode se tornar alvo deles. Crianças filtram e absorvem tudo ao redor, temos que ter cautela e pisar em ovos quando quisermos dar um exemplo, na forma como passamos os nossos valores.

Voltando ao exemplo do refrigerante dividido, onde eu tinha cinco anos, e sim, me lembro bem disso, pois era muito mais fácil cativar uma amizade, numa época onde éramos mais fraternais e nos tratávamos como irmãos: dividíamos tudo e tudo era festa. É preferível ter pouco e dividir, e nos alimentarmos de sentimentos também, do que ficarmos isolados em nosso castelo, sem ter pra quem mostrar todo nosso ouro.

Eu tenho amigos que não tem idéia do quanto são meus amigos, nem tem noção de como me são especiais, raros, caros e como me sinto afortunada por tê-los, nesse caótico mundo de sentimentos descartáveis, onde ganhar dinheiro e ter poder se tornaram prioridade em detrimento do “ser alguém com princípios”.

Se eu pudesse fazer tudo por eles, faria sem pestanejar. Eu aprenderia a voar, ou me conformaria em ter os pés no chão. Eu só gostaria de estar presente no melhor e no pior momento da vida deles, porque é preciso reconhecê-los em suas vitórias e nos reconhecermos como parte de suas tragédias, visto que a dor é subtraída na mesma proporção que a felicidade se multiplica. Quem diria, é matemática pura. Sem razão, mas tem lógica: a união faz a força. E um mais um consegue ser igual...a um. Uma só alma com dois corpos, dois corações em uma só sintonia.

Vá entender, eu desisto, mas aceito e comemoro: quem inventou um sentimento onde o predomínio é o altruísmo, onde você pode ser exclusivo para alguns e único pra todos eles, e você se sente leve ao transbordar sua alma para além de si mesmo, merece um pedestal, e o meu reconhecimento. Respondendo e justificando minhas razões para falar sobre amizade? Não tem explicação, e nem acabou por aqui. Mas eu me sinto privilegiada por poder contar em mais de uma mão, os meus afetos sinceros, que eu guardo na parte mais nobre que há em mim. E me sinto vulnerável e triste quando não posso corresponder à uma expectativa, ou não estou presente como gostaria. Mas em pensamento, estamos juntos, sempre, em tão harmoniosa sintonia, que eu poderia tocar seu coração. O mundo é melhor, porque você existe. Jamais esqueça disso.

By Nine

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