quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Espera Necessária

“Ela se encolhe e aguarda que a corrente do tempo a leve de volta ao seu próprio tempo.”

Era mais um dia de trabalho, e como sempre, apertei o botão a espera do elevador. Sabe aquela coisa de rotina, que já sabemos de cor qual será a próxima cena? Eu sabia qual seria, mas nunca tinha parado para refletir sobre ela, até que hoje, me deu um estalo. Saí do elevador e cumprimentei um senhor sentado na poltrona, ao lado. E parei pra pensar, que todos os dias, noites, feriados e finais de semana, que chego para trabalhar, está lá, o mesmo homem de idade avançada sentado sorridente na mesma poltrona, me cumprimentando e desejando um bom período de trabalho. Quem será ele? O que será que ele faz, passando sua vida ali? Quem será a pessoa que ele acompanha, espera, anseia pela cura, ou pelo irremediável fim? Perguntas que me vieram à mente, e não sabiam calar. Fiquei sem resposta, divagando possibilidades.

Será sua mãe? Creio que não, ela não deve mais ter idade para estar entre nós, já que se trata de alguém de idade avançada. Será um outro parente? Irmão, tio, primo, filho? Talvez. Porém, caso não seja um filho, creio eu que teriam outros parentes mais próximos para revezar a companhia, a menos que ele seja o único parente ainda vivo. A resposta mais lógica que chegou à minha mente – e confesso, a que quis aceitar como real – foi que ele esperava por sua esposa, sua mulher, companheira de uma vida inteira. Isso talvez justificaria dias e noites a fio, gastando talvez os últimos dias, meses e anos de sua vida dentro de um corredor cinza e silencioso de hospital, sorrindo para todos como se quisesse fazer nascer dentro de si, a esperança de tentar recomeçar, não importa o ponto da vida em que se esteja vivendo. Ou talvez ele disfarce muito bem, e por dentro esteja se corroendo em dor e inconformismo, mas ainda assim, precisa se apresentar forte, para dar força a quem tanto quer salvar com seu amor, que já não é mais o suficiente para curar.

Fiquei pensando no tempo de espera, que em algum momento de nossas vidas, todos nós devemos atravessar, com paciência e resignação. A espera necessária. Necessária para uma alma que busca plenitude. Para um coração que anseia conforto. Para sonhos que urgem eternidade. Todos temos um tempo, onde devemos esperar. Seja por um emprego, seja por um filho – no ventre ou fora dele – por uma promoção, por uma resposta, uma cura, um amor. Ou por uma esperança partida em vias de desfalecer. Mas é tempo de esperar, sem desacreditar, para que as coisas possam entrar nos eixos, ou nos consertar e nos alinhar à elas, agora em sua nova forma de ser.

A nós, meros e humildes mortais, basta força. Para encarar as mudanças que a vida nos traz, com coragem e garra para seguir em frente. Com fé que não nos abale diante do rompimento de tudo que nos é essencial, e quase sagrado. Com amor, para que recomecemos, sem deixar de crer que apesar de tudo, valeu a pena, e tudo aconteceu da forma mais bela que poderia ter sido.

E o bom velhinho da história? Continua esperando com um sorriso no rosto, como um adolescente no primeiro encontro com sua namorada. Isso lhe torna jovem, isso lhe faz forte. Sortudo daquele – seja lá quem for: irmão, primo, filho, esposa – que está sendo acompanhado. Ele não desistiu. E se é necessário, ele vai até o fim.

By Nine

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